Estava eu, sentada em botequim de esquina por
mais de 1 hora quando um garçom, muito bonito por sinal, com um charme de galã
das oito, veio me perguntar o que eu desejava. Pensei comigo mesmo '' Ah, agora
sim eu respondo''. Este, já era no minimo o décimo garçom que ia ali me
perguntar o que eu queria, pois até o momento, me segurava em apenas um copo de
água com gás, que já nem gás tinha mais.
Fiquei deslumbrada com aquele homem. Tão
másculo, com um par de olhos verdes, um sorriso incrivelmente fantástico, e com
uma pinta em sem queixo, que o deixava ainda mais sexy. Fiquei encantada,
hipnotizada, que praticamente não existia mais nada além de nos dois.
Novamente ele voltou a me perguntar, com aquela
voz rouca, que fez o meu corpo tremer :
- O que vai querer senhorita ?
Em um impulso, ainda cega por aquele par de
olhos esverdeados respondi:
-Quente. Algo quente. Café, amor, você, nos
dois, o que acha ?
Ele claro, me olhou espantado , em um engasgo me
perguntou como eu podia o perguntar aquilo ? Foi aí que a realidade veio a
tona, minhas bochechas envermelharam, fiquei sem graça, sem jeito. Coloquei o
cabelo de lado, olhando pra baixo, com um sorriso torto, segurei em meu caderno
de anotações e o encarei, com uma voz baixa, pedi perdão e prossegui:
-Sabe aquele lance de café e amor quente ?
Então, necessito disso.
O olhei, e vi que ele ria do meu jeito
atrapalhado, balançou a cabeça e pra minha decepção disse que podia apenas me
servi um café. Aceitei, fazer o que né ? Ele saiu em direção as outras mesas e
eu fui o acompanhando com o meu olhar, suas costas largas , colada naquela
blusa branca, com avental verde, uma calça desbotada, pensei comigo mesmo ''
Preciso é disso''.
Olhei para meu caderno, e vi o que me levou
aquele botequim : Pedro. Pedro Stonner. Olhei para aquela foto, rodeada de
corações e me sentir uma idiota. Durante 5 anos, eu estive ao lado daquele
homem, que me prometera o céu, a terra e o mar, e durante este 5 anos, ele deu
a uma garota de programa tudo que sonhamos, ate mesmo uma filha e uma família.
Eu sentia nojo. Não só dele, como de mim mesma. Quantas noites eu dormir
pensando nele, fazendo planos, sonhando, acreditando em uma ilusão que foi em
água abaixo quando ele virou pra mim e disse '' Catarina, me esqueça ''.
Sentir uma repulsa, uma ânsia de vomito. Fechei
o caderno, respirei fundo e passei minhas unhas por aquela mesa de metal,
tirando ate a tinta da propaganda de cerveja. Eu tinha raiva só de pensar em
tudo aquilo que por causa dele eu havia vivido . Minhas lagrimas quase iam a
tona, quando aquele homem voltou novamente me servindo uma xícara de café.
Quando ele perguntou se eu desejava algo a mais,
meu sorriso malicioso apareceu, respirei fundo e disse:
-Será que poderia fazer companhia a uma mulher
solteira, carente, recém separada ?
Ele riu: Quem dera. Não posso, estou em serviço,
quem sabe um outro dia?
-Oras, o que que tem ? O bar estar vazio, seu
patrão acabara de sair. Por favor, te peço. Senta e conversa comigo ? .Sorri
para ele, enquanto o mesmo pensava em minha proposta. Eu ficava tentando
advinha o que passava pro aquela cabeça em apenas segundos e quando do nada ele
sentou em minha frente, esticou os braços e perguntou o que uma mulher, tão
provida de elegância fazia sentada em um bar xifrim como aquele. Eu ficara
espantada com tanto charme que apenas disse:
-Meu caro, sem perguntas desse tipo hoje. Basta
saber que me chamo Catarina, sou solteira, tenho 32 anos e quero viver a vida
intensamente. -Sorri e vi que ele não estava nem um pouco curioso ao meu
respeito, enquanto eu me mordia por dentro querendo saber quem era aquele cara.
-Engraçado, quem ver a moça tão formosa, tão bem
culta, não parece uma menina que sempre passara por aqui.
Eu ri nervosa. Então ele realmente me conhecia.
Que tola, eu trabalhava a um quarteirão dali. Todas as manhas eu passava por
aquela rua, quem não sabia quem eu era.
-Desculpa, você já me conhece ?
Agora, quem ria era ele . - Claro; Catarina ou
melhor, Nina.
Seu sorriso fora ao extremo e o meu mundo rodou.
Voou. Não, não era possível. Como ? Não, o mundo não seria tão pequeno assim.
-Pera aí. Como é o seu nome ? Ninguem nunca me
chamou de Nina além do ...
-Rafa. -Ele sorriu. - Isso aí Nina. Quanto tempo
hein ? Exatos 15 anos e você continua linda, seu sorriso então. Bem que eu
imaginara que jamais iria me reconhecer .
Eu estava anestesiada . Completamente pasma. O
meu primeiro namorado magricelo, que usava aparelho era aquele homem
fantástico. Meus pensamentos voltaram a minha juventude, e só me despertei com
os estralos dos seus dedos.
-Oras Nina, não durma acordada. Me conte, o que
aconteceu durante todos esses anos ?
'Sorri comigo mesma, respirei fundo, o encarei :
- Bom ... - Contei ao Rafa toda a minha vida,
desde a faculdade, a empresa de publicidade, meu namoro e noivado com o Pedro,
até chegar aquele dia que o reencontrei. E ele sempre, apenas me ouvindo e
sorrindo. Quando olhei pro relógio, me espantei.
-Meu Deus Rafael ! Já são 18:45 , eu entrei aqui
antes de 14:00!
Rafael calmo como sempre, levantou, pegou minha
bolsa. Foi ate o balcão, pegou as chaves, olhou para mim, sorrio e disse:
- O café fica por minha conta. E o amor quente
... Esse, hoje a noite tambem.
Sorri de um lado ao outro, peguei meu casaco e
sair acompanhada de Rafael. Olhei ao céu e vi uma estrela cadente caindo e
pensei .
'' Dizem que estrelas cadentes, são estrelas
morrendo. Uma Catarina morreu e outra renasceu em um único dia. Estrela
querida, este é o meu pedido''.